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INFÂNCIA: A PERMANENTE EXCLAMAÇÃO
Nasceu! É um menino! Que grande! E como chora! Claro, quem não chora não mama! Me dá! É Meu!
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A PUBERDADE: A TRAVESSIA (OU O TRAVESSÃO)
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  -O que eu acho, Jorge-não sei se tu também achas-o que eu acho-porque a gente sempre acha muitas coisas-o que eu acho-não sei-tu és irmão dela-mas o que eu estive pensando-pode ser bobagem-mas será que não é de a gente falar-não, de eu falar com a Alice-
  -Alice tu sabes-tu me conheces-a gente se dá-a gente conversa-tudo isto Alice-tanto tempo-eu queria te dizer-é difícil-agente-eu não sei falar direito.


JUVENTUDE - A INTERROGAÇÃO
  Mas quem é que eu sou afinal? E o que é que eu quero? E o que é que vai ser de mim? E Deus existe? E Deus cuida da gente? E o anjo da guarda, existe/ E o diabo? E por que é que a gente se sente tão mal?
[...]
  Mas por que é que tem pobres e ricos? Por que é que uns têm tudo e outros não têm nada? Por que é que uns têm auto e outros andam a pé? Por que é que uns vão viajar e outros ficam trabalhando?


AS PAUSAS RECEOSAS (RECEOSAS, VÍRGULA, CAUTELOSAS) DO JOVEM ADULTO
  Estamos, meus colegas, todos nós, hoje, aqui, nesta festa de formatura, nesta festa, que, meus colegas, é não só nossa, colegas, mas também, colegas, de nossos pais, de nossos irmãos, de nossas noivas, enfim, de todos quantos, nas jornadas, penosas embora, mas confiantes sempre, nos acompanharam, estamos, colegas, cônscios de nosso dever, para com a família, para com a comunidade, para com esta Faculdade, tão jovem, tão batalhadora, mas ao mesmo tempo tão, colegas, tão.
[...]
O HOMEM MADURO. NO PONTO
Uma cambada de ladrões. Têm de matar.
Matar. Pena de morte.
O Jorge também. Cunhado também. Tem de matar. Esquadrão da morte. E ponto final.
No meu filho mando eu. E filho meu estuda o que eu quero. Sai com quem eu quero.
Lê o que eu quero. Freqüenta os clubes que eu mando.
Tu ouviste bem, Alice. Não quero discutir mais este assunto. E ponto final.


(UM PARÊNTESE)
(Está bem, Luana, eu pago, só não faz escândalo)


O FINAL... RETICENTE...
Sim, o tempo passou... E eu estou feliz... foi uma vida bem vivida, esta... Aprendi tanta coisa... Mas das coisas que aprendi... A que mais me dá alegria... É que hoje que sei tudo... Sobre pontuação...

(Minha mãe não dorme enquanto eu não chegar e outras crônicas.
Porto Alegree: L&PM, 1995. p. 88-91.)
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