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Estão abertas as inscrições para as oficinas do Ponto de Cultura Solar Boa Vista! São 16 oficinas em diversas áreas e ainda a criação de um núcleo de formação de atores com qualificação intensa. Haverá oficinas nos três turnos, movimentando o Parque Solar Boa Vista, e ao final delas, será montado um espetáculo, com direção de Fernando Guerreio, com a participação de algumas oficinas e a edição de uma pesquisa sobre o Engenho Velho de Brotas.

As inscrições deverão ser feitas no teatro, através do preenchimento de um formulário (lembre de trazer uma 3×4 e currículo, se você for se inscrever para o Núcleo de Formação de Atores), entre os dias 7 e 1 de Julho, das 10h às 19h.
As oficinas são: 
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Hoje apetece-me um sorriso, um carinho, qualquer coisa tua...
Hoje                      um sorriso                        qualquer
              
                                                   um carinho  qualquer
                                           
       apetece-me                                             qualquer coisa                           

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Eu tenho um ermo enorme dentro do olho. Por motivo do ermo não fui um menino peralta. 
Agora tenho saudade do que não fui. Acho que o que faço agora é o que não pude fazer na infância. Faço outro tipo de peraltagem.
Quando eu era criança eu deveria pular muro do vizinho para catar goiaba. Mas não havia vizinho. Em vez de peraltagem eu fazia solidão. Brincava de fingir que pedra era lagarto. Que lata era navio. Que sabugo era um serzinho mal resolvido e igual a um filhote de gafanhoto.
Cresci brincando no chão, entre formigas. De uma infância livre e sem comparamentos. Eu tinha mais comunhão com as coisas do que comparação.Porque se a gente fala a partir de ser criança, a gente faz comunhão: de um orvalho e sua aranha, de uma tarde e suas garças, de um pássaro e sua árvore. 
Então eu trago das minhas raízes crianceiras a visão comungante e oblíqua das coisas. Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina. É um paradoxo que ajuda a poesia e que eu falo sem pudor. Eu tenho que essa visão oblíqua vem de eu ter sido criança em algum lugar perdido onde havia transfusão da natureza e comunhão com ela. Era o menino e os bichinhos. Era o menino e o sol. O menino e o rio. Era o menino e as árvores.
(Manoel de Barros. Memórias Inventadas. A Terceira Infância.)