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No fim da tarde outonal, quando o sol se punha avermelhando o azul 
do céu, a lua brindava  com estrelas, prateando e iluminando
a noite, anunciando minha chegada.
Após nove meses enclausurada, cheguei ao mundo!
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"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, 
que já tem a forma do nosso corpo, 
e esquecer os nossos caminhos, 
que nos levam sempre aos mesmos lugares. 
É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, 
teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos".
(Fernando Pessoa)
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INFÂNCIA: A PERMANENTE EXCLAMAÇÃO
Nasceu! É um menino! Que grande! E como chora! Claro, quem não chora não mama! Me dá! É Meu!
[...]


A PUBERDADE: A TRAVESSIA (OU O TRAVESSÃO)
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  -O que eu acho, Jorge-não sei se tu também achas-o que eu acho-porque a gente sempre acha muitas coisas-o que eu acho-não sei-tu és irmão dela-mas o que eu estive pensando-pode ser bobagem-mas será que não é de a gente falar-não, de eu falar com a Alice-
  -Alice tu sabes-tu me conheces-a gente se dá-a gente conversa-tudo isto Alice-tanto tempo-eu queria te dizer-é difícil-agente-eu não sei falar direito.


JUVENTUDE - A INTERROGAÇÃO
  Mas quem é que eu sou afinal? E o que é que eu quero? E o que é que vai ser de mim? E Deus existe? E Deus cuida da gente? E o anjo da guarda, existe/ E o diabo? E por que é que a gente se sente tão mal?
[...]
  Mas por que é que tem pobres e ricos? Por que é que uns têm tudo e outros não têm nada? Por que é que uns têm auto e outros andam a pé? Por que é que uns vão viajar e outros ficam trabalhando?


AS PAUSAS RECEOSAS (RECEOSAS, VÍRGULA, CAUTELOSAS) DO JOVEM ADULTO
  Estamos, meus colegas, todos nós, hoje, aqui, nesta festa de formatura, nesta festa, que, meus colegas, é não só nossa, colegas, mas também, colegas, de nossos pais, de nossos irmãos, de nossas noivas, enfim, de todos quantos, nas jornadas, penosas embora, mas confiantes sempre, nos acompanharam, estamos, colegas, cônscios de nosso dever, para com a família, para com a comunidade, para com esta Faculdade, tão jovem, tão batalhadora, mas ao mesmo tempo tão, colegas, tão.
[...]
O HOMEM MADURO. NO PONTO
Uma cambada de ladrões. Têm de matar.
Matar. Pena de morte.
O Jorge também. Cunhado também. Tem de matar. Esquadrão da morte. E ponto final.
No meu filho mando eu. E filho meu estuda o que eu quero. Sai com quem eu quero.
Lê o que eu quero. Freqüenta os clubes que eu mando.
Tu ouviste bem, Alice. Não quero discutir mais este assunto. E ponto final.


(UM PARÊNTESE)
(Está bem, Luana, eu pago, só não faz escândalo)


O FINAL... RETICENTE...
Sim, o tempo passou... E eu estou feliz... foi uma vida bem vivida, esta... Aprendi tanta coisa... Mas das coisas que aprendi... A que mais me dá alegria... É que hoje que sei tudo... Sobre pontuação...

(Minha mãe não dorme enquanto eu não chegar e outras crônicas.
Porto Alegree: L&PM, 1995. p. 88-91.)
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Ainda na cama abri os olhos; o corpo gélido; lá fora, a chuva brincava com o vento e bailava as árvores. Sentei na cama. Ainda sonolenta, fui aos poucos invadida por uma enorme disposição.
O chão estava frio, procurei meus chinelos e calcei os do meu irmão. Tomei um café doce com leite de vaca morno, e comi torradas com banana. O gosto de hortelã na língua oferecia um frescor pra manhã chuvosa. 
Fui avisada da camisola quando estava no portão. Subi as escadas, desci de vestido e, penteei o cabelo.
Atravessei a rua disparada. Havia tempo que não comia uma cereja, ganhava um abraço da casa 21 e, recebia bons dias sorridentes, enquanto pulava com as gotas de água que vinham do céu comigo brincar... 
Um colorido de perfumes envolvia-me no banho de chuva outonal!!

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Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortes;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
 - Em que espelho ficou perdida
a minha face?
(Cecília Meireles)
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A visceral cantora Elza Soares, foi o tema escolhido pela Arte sintonia Companhia de Teatro, para a montagem de "Se Acaso Você Chegasse", espetáculo musical inspirado na vida dessa filha de operário e lavadeira que encanta o Brasil desde os anos 60. A peça constrói um mosaico de acontecimentos da biografia de Elza Soares, entrecortada por canções do seu repertório, interpretados pela atrizes da montagem.
Com dramaturgia do criativo Elísio Lopes Jr., autor do Amores Bárbaros e de Escândalo,  "Se Acaso Você Chegasse" tem direção geral de Antônio Marques, reunindo no elenco Denise Correia, Jôsi Varjão, Lívia França e Leonardo Freitas, atores da Companhia, e os atores convidados: Agamenon de Abreu, Anderson Grillo, Clara Paixão, Juliette Nascimento e Guilherme Ojis.
Se Acaso Você Chegasse é um espetáculo para assistir, ouvir e vibrar com a Elza que, certamente existe em cada um de nós.

O que? Espetáculo "Se Acaso Você Chegasse"
Onde? Theatro XVIII, Rua Gregório de Matos, Pelourinho
Quando? 02 a 25 de Abril, às 20h
Quanto? R$ 5,00